A empresa que assumir a conclusão da reforma do Centro de Hipismo de Deodoro terá muito trabalho e pouco tempo para deixar tudo pronto até os Jogos Olímpicos, em agosto. Segundo levantamento da Ibeg, empresa que teve o contrato da obra rescindido na semana passada pela Prefeitura do Rio, será necessário ao menos três meses de trabalho pesado - até abril - para instalar toda as redes elétrica, de esgoto, de dados, de irrigação e de incêndio. Fora a conclusão da Vila dos Tratadores, três prédios de seis andares, que correria o risco de ficar pronta somente próximo às Olimpíadas.
A Ibeg, que também foi retirada da obra do Centro de Tênis, teve o contrato rescindido em Deodoro sob a alegação de atraso no cronograma e descumprimento de cláusulas contratuais. A empresa, por sua vez, citou a demora nos repasses dos recursos e a falta de projetos básicos da Riourbe, a Empresa Municipal de Urbanização. A Zadar, construtora que faz parte do Consórcio Onda Azul na obra do Estádio Aquático do Parque Olímpico, está avaliando a possibilidade de assumir a conclusão da reforma. Funcionários da empresa estão desde a semana passada no Centro de Hipismo fazendo um levantamento do que precisa ser feito.
A Riourbe afirma que um novo cronograma está sendo feito para adequar a obra e determinar quais partes serão priorizadas em um primeiro momento. Por isso, ainda não teria como dar um novo prazo de conclusão - o inicialmente previsto venceu no fim do mês passado. O prefeito Eduardo Paes estipula dois meses.
- Estamos fechando detalhes com duas empresas, uma do Centro de Tênis e outra do Centro de Hipismo, e na próxima semana deveremos retomar as obras. Nenhuma delas preocupa. O tênis, zero, e o hipismo tem um pouco mais de coisa para fazer. Mas não são obras complexas. Ficaria pronto em 60 dias, fácil - disse Paes, nesta quinta-feira.
De acordo com a Ibeg, quatro setores são classificados como "em estado de alerta": as baias, a veterinária, o material importado das pistas e as instalações temporárias, chamadas de overlay. Na veterinária, houve erro no estaqueamento do solo e indefinições sobre aprovação e liberação do projeto para execução. Nas pistas de treino, o projeto de drenagem não atendia ao fornecedor de material oriundo da Alemanha. E o atraso da instalação das arquibancadas temporárias, não só no Centro de Hipismo, mas em toda a área de Deodoro, já desperta cobranças do Comitê Rio 2016 à Empresa Olímpica Municipal.
Outra parte que preocupa é a Vila dos Tratadores. Segundo a Ibeg, o projeto da obra foi adaptado de outra edificação com características estruturais diferentes. Houve erros de projeto desde o tipo de estaqueamento do solo, que precisou ser mudado, passando pelos elevadores e cisternas. Em novembro, a Ibeg foi autorizada a subcontratar a Tensor para seguir a obra. A Riourbe admite apenas o erro no estaqueamento, e afirma que faltou à empreiteira giro de capital para seguir com a construção dos prédios.
Os projetos básicos e executivos das arenas esportivas em Deodoro foram elaborados pelo Consórcio Vigliecca-Marobal. A contratação foi feita em novembro de 2013 por R$ 37,5 milhões pelo governo estadual, então responsável pelas obras na região. Diante do atraso do início dos trabalhos, Deodoro passou para a Prefeitura. Em abril de 2015, o contrato com a Vigliecca-Marobal foi rescindido sob alegação de não cumprimento do cronograma, de acordo com a Riourbe. A empresa alega que o contrato não foi rescindido, mas finalizado no prazo de 27 de dezembro de 2014, e também afirma que entregou todos os projetos dentro do prazo, sendo que todos teriam sido 100% aprovados. A Vigliecca nega que tenha feito os projetos da Vila dos Tratadores. Em julho, a Engineering foi contratada por R$ 9,8 milhões para elaborar os projetos restantes.
O Centro de Hipismo de Deodoro recebeu o evento-teste para os Jogos Olímpicos em agosto do ano passado. Na ocasião, a maior preocupação era com a ameaça de mormo, doença equina, que acabou não se concretizando. O campeonato brasileiro de CCE - Concurso Completo de Equitação -, foi disputado apenas com cavalos do país e com a pista de cross country incompleta. A veterinária foi usada com capacidade reduzida.
Situação "caótica"
Em pelo menos 25 cartas enviadas à Riourbe desde setembro de 2014, a Ibeg se queixa da falta de projeto básico e inconsistência da planilha orçamentária. A situação é classificada de "caótica", o que obrigou a empresa a suspender as atividades por determinados períodos. A Caixa Econômica Federal, financiadora da obra, só libera recursos para uma etapa após confirmar a conclusão das anteriores. A empresa também alega que foi convencida pela Prefeitura a elaborar os projetos que faltavam, o que não era de sua incumbência.
Nos meses que antecederam o evento-teste o panorama melhorou e tudo o que foi planejado para a competição foi cumprido. Depois do evento-teste, porém, as ações foram concentradas no Centro de Tênis, primeira arena a receber um evento-teste no Parque Olímpico, em dezembro, sob a responsabilidade de um consórcio liderado pela Ibeg. O contrato no Centro de Tênis também foi rescindido pela Prefeitura.
Briga na Justiça
A Ibeg briga na Justiça para provar que a retenção de recursos da Prefeitura e a falta de projetos básicos comprometeram a execução da reforma do Centro de Hipismo de Deodoro, que começou em agosto de 2014. A construtora, que também teve o contrato rescindido no Centro de Tênis no Parque Olímpico, alega a falta de cinco dias úteis para apresentar a defesa. Ela também vai contestar a multa de R$ 11 milhões imposta pela Prefeitura. Do total de R$ 157,1 milhões para financiar a obra, a Ibeg afirma que só recebeu R$ 51 milhões.
Nos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio, a Ibeg foi a responsável pela reforma do complexo esportivo de Miécimo da Silva, em Campo Grande,e pelas quadras temporárias de tênis no Clube Marapendi, na Barra da Tijuca.