Casos recentes de uma doença rara têm colocado as autoridades de saúde de alguns estados do Nordeste brasileiro em alerta. Trata-se da síndrome de Guillain-Barré (SGB), uma doença neurológica, de origem autoimune, que provoca fraqueza muscular generalizada e que, em casos mais graves, pode até paralisar a musculatura respiratória, impedindo o paciente de respirar, levando-o à morte.
A suspeita da ligação da SGB a essas doenças transmitidas pelo Aedes Aegypt existe em decorrência de que muitas das pessoas diagnosticadas com a doença apresentavam histórico de doença exantemática.
A síndrome
A síndrome de Guillain-Barré é uma doença rara - atinge em média uma pessoa a cada 100 mil habitantes – e que pode surgir após infecções por vários tipos de vírus ou bactérias. De origem autoimune, ela ocorre por causa a produção inapropriada de anticorpos que passam a atacar a bainha de mielina, que é uma substância que recobre e protege os nervos periféricos.
Como alguns vírus e bactérias podem possuir proteínas semelhantes às presentes na bainha de mielina, em alguns casos eles podem levar o sistema imunológico a criar anticorpos contra essas proteínas, passando a atacar não só o vírus invasor, mas também a bainha de mielina.
O ataque dos anticorpos cria um intenso processo inflamatório que leva à destruição da bainha de mielina, que bloqueia a passagem dos estímulos nos nervos motores, ocasionando, assim, paralisia muscular com pouca ou nenhuma diminuição da sensibilidade.
Em alguns casos, a manifestação da SGB ocorre após a ocorrência de cirurgias, vacinas, traumas, linfomas, HIV, entre outros.
Sintomas
A fraqueza muscular é o principal sintoma da síndrome de Guillain-Barré. A fraqueza, que pode apresentar diferentes graus de agressividade, geralmente acomete as pernas e se espalha para outros grupos musculares, em direção aos braços, tronco e face. Nos casos mais graves, pode ocorrer a paralisia total dos membros, além de comprometimento dos músculos respiratórios e da face.
Além da fraqueza ou paralisia muscular, sintomas como taquicardia, queda ou amento da pressão arterial, retenção urinária ou constipação intestinal e dor nos membros acometidos também são relatados nos quadros de SGB.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da síndrome de Guillain-Barré é feito, primariamente, de forma clínica, a partir da observação e análise dos sintomas, com a complementação de exames laboratoriais que comprovem a impressão médica e exclua outras causas possíveis para a fraqueza ou paralisia muscular.
Ainda não há cura específica para a doença. O tratamento é focado no combate aos sintomas e minimização dos danos motores, com injeção de imunoglobinas (anticorpos contra os auto-anticorpos que estão atacando a bainha de mielina) e plasmaférese (uma espécie de hemodiálise na qual é possível filtrar os auto-anticorpos que estão atacando a bainha de mielina).
Em geral, há uma progressão dos sintomas da doença nas duas primeiras semanas, quando ocorre a estabilização do quadro nas duas semanas seguintes. A partir daí, começa um processo de regressão da SGB, que pode durar várias semanas ou meses até a recuperação total.
Graças à capacidade de regeneração da bainha de mielina dos nervos periféricos, a grande maioria dos pacientes consegue recuperar todos os movimentos após um ano da doença. Entretanto, cerca de 30% das pessoas com síndrome de Guillain-Barré apresentam fraqueza residual após três anos e aproximadamente 3% podem sofrer uma recaída da fraqueza muscular e formigamento muitos anos depois do ataque inicial, de acordo com estudos do National Institute of Neurological Disorders and Stroke – Ninds (Instituto Nacional de Desordens Neurológicas e Derrame, em livre tradução do inglês), dos Estados Unidos.
A mortalidade da síndrome de Guillain-Barré é considerada baixa, aproximadamente 5%. E entre 5 a 10% dos pacientes permanecem com sintomas motores ou sensitivos incapacitantes que lhes impedirá de voltar a andar sem ajuda.
Entre os critérios que estão associados a um maior risco de sequelas estão a idade acima de 50 anos, o rápido avanço da fraqueza e paralisia (em menos de uma semana), a necessidade de ventilação mecânica e o quadro de diarreia prévio ao surgimento dos sintomas da síndrome.
De acordo com o Ministério da Saúde, a rede pública (SUS) oferece gratuitamente 35 procedimentos para tratamento de Guillain-Barré, entre procedimentos diagnósticos, clínicos, cirúrgicos, de reabilitação e medicamentos.