Os olhos para lá de expressivos da americana Ibtihaj Muhammad podem até desviar a atenção, mas sua forte mensagem está um pouco mais acima, na sua cabeça. Dentro e fora dela, diga-se de passagem. Primeira americana a usar o hijab - véu muçulmano - em Jogos Olímpicos, a esgrimista se despediu da Rio 2016 com objeto importante também no peito: um bronze. Junto com Mariel Zagunis e Dagmara Wozniak, ela faturou a medalha neste sábado na competição de sabre por equipes, na Arena Carioca 3. A Rússia ficou com o ouro; Ucrânica faturou a prata.
Um dos símbolos desta Olímpiada, Ibtihaj Muhammad é muito mais que uma esgrimista premiada logo em sua primeira participação em Jogos. Aos 30 anos, é dela uma das maiores mensagens contra o preconceito ao mundo da Rio 2016. Principalmente aos EUA, que exibem no momento um candidato à presidência com forte discurso antimuçulmano.
- Eu não sei o que é maior para mim. O tempo que estou passando aqui é maior do eu. Tudo que eu vivo é maior do eu mesma. Muita gente lá os enfrenta os mesmos desafios todos os dias, seja por gênero, seja por cor, religião e outras coisas. Isso é o que posso fazer como muçulmana, mulher, afroamericana. Eu acho o esporte consegue construir pontes entre as culturas - disse, logo em seguida para comemorar o feito.
- E tudo isso fica ainda melhor quando você consegue uma medalha - sorriu.
Número oito do ranking internacional, Muhammad também disputou a competição individual da arma. Parou nas oitavas de final na última segunda-feira. Embora sabedora da importância da sua simples presença na Rio 2016, confessou tristeza com a queda precoce. Agora, além da mensagem, a esgrimista também pôde exibir seu sorriso vencedor. No esporte e na vida.
- Eu trabalhei muito duro durante seis anos para chegar até aqui. Foram anos duros, com muitas lesões, tempo longe da minha família. De qualquer maneira, conseguimos uma medalha e estou muito feliz por representar meu país. Essa medalha não é só para mim, mas também para minha família.
A passagem marcante pelo Rio de Janeiro já desperta saudades. Perguntada se pensa em competir na próxima Olímpiada, em Tóquio, Muhammad revelou seu lado despretensioso, que por pouco não passa despercebido diante tamanha importância.
- Não sei ainda. Estou apenas vivendo cada dia.
E contribuindo para uma mudança social mundial, Muhammad. A humanidade agradece.