Zhan Beleniuk tem a idade de seu país: 25 anos. Nasceu em 1991, ano da independência da Ucrânia, antes parte da União Soviética. A mãe o criou sozinha, em Kiev. Não tem lembranças do pai, morto na guerra civil de Ruanda - era piloto da força aérea. Zhan é ucraniano, campeão mundial e, agora, medalhista de prata na luta greco-romana até 85kg. E um dos dois únicos negros da delegação na Olimpíada Rio 2016.
Zhan chorou no pódio. Lembrou da mãe, Svetlana. Enxugou o rosto, saiu de lá e foi conversar com os repórteres. Fez esforço para falar em inglês. Contou que ouviu o desabafo de outra lutadora negra, a brasileira Rafaela Silva, ouro no judô.
- Já sofri com insultos também. Há racismo em todos os lugares. Talvez só não haja nos países predominantemente negros.
A história de Zhan se mistura com a da Ucrânia. Foram tempos difíceis no início da década de 90. Até hoje mora com a mãe em um pequeno apartamento. É um típico ucraniano, exceto pela cor da pele. Desde pequeno, aprendeu a se defender de golpes de preconceito. Arrumava briga aqui e ali quando criança.
A mãe o botou para praticar luta, o viu ser campeão mundial e, agora, medalhista olímpico. Quer dizer...
- Ela não assiste às minhas lutas porque fica muito nervosa. Os vizinhos avisam quando as lutas terminam.
Na segunda-feira, Zhan começou ganhando, mas perdeu feio para o russo Davit Chakvetadze. Um duelo esportivo e político - Ucrânia e Rússia estão estremecidos desde que os russos invadiram a região da Crimeia, em 2014. A história de Zhan mais uma vez se mistura com a de seu país. Estendeu a mão para o vencedor depois da luta.
- Apesar de eu ter perdido, essa medalha é importante para a Ucrânia - disse.