Do choro de Fabiana Murer escorre uma mistura de tristeza e satisfação. A eliminação na primeira fase do salto com vara, na manhã desta terça-feira, no Engenhão, foi a terceira grande decepção dela em Olimpíadas. Ao anunciar o fim da carreira, porém, a atleta fez um balanço positivo de sua trajetória. A hérnia de disco pode ter lhe tirado a força, mas o resultado negativo não será capaz de enfraquecê-la diante da história. O sarrafo da vida, ela acredita ter superado.
Para Fabiana, é difícil medir o que mais lhe doeu: as frustrações em Pequim, 2008, e Londres, 2012, ou a derrota em casa. Por outro lado, os resultados positivos obtidos ao longo do tempo têm efeito analgésico. O melhor remédio ao fracasso são as lembranças de todas as vezes em que ela teve sucesso.
"As três vezes foram muito difíceis. Nas três, eu entrei para fazer o meu melhor, buscar a final e uma medalha. Infelizmente, não deu certo em nenhuma, mas consegui muitas outras coisas, quatro medalhas em Mundiais, vários recordes...", disse Murer, até que o choro lhe impedisse de prosseguir. Perguntada se o saldo de sua carreira foi positivo, ela conseguiu apenas concordar.
Em Pequim, Murer chegou à final. No entanto, após uma de suas varas sumir, tentou paralisar a prova. Desconcentrada, acabou na 10ª colocação. Quatro anos depois, culpou o vento pela desclassificação na primeira fase. Desta vez, embora tenha chegado aos Jogos como dona da segunda melhor marca do ano na modalidade, ela revelou uma hérnia de disco na região cervical, às vésperas da competição. O problema teve influência decisiva no seu fracasso, segundo a própria atleta.
"Acabei de sair de uma prova muito complicada. Passei um mês muito difícil, desde que eu descobri a hérnia de disco cervical, que me tira a força do braço e das costas. Isso não me deixou treinar como eu poderia para chegar bem às Olimpíadas. Foi um mês muito intenso, de muito treino e tratamento, sempre acreditando que seria possível chegar 100% e batalhar por uma vaga na final. Sabia que a classificação seria difícil, sempre é uma prova difícil, ainda mais por esse mês que passei", disse Murer, que emendou: "Tente fazer os ajustes o máximo possível. Comecei com uma vara mais fraca, mas meu braço não conseguia sustentar, e a vara desenvergava antes da hora, não conseguia pegar o tempo da vara para ter voo e passar por cima dos 4.55m. Peguei uma mais forte, mas também não deu certo. É um momento difícil, meu último ano. Eu já tinha feito uma boa marca este ano, 4.87m, bati o recorde sul-americano, estava num bom caminho para chegar bem aqui, mas infelizmente tive a hérnia que acabou desestruturando tudo."
Entre os feitos de sua carreira, alguns vão além de medalhas conquistadas e marcas estabelecidas. Quando olha para trás, Murer enxerga o quanto fez pela modalidade no país. Ela acredita ter mostrado ao mundo que existe, sim, salto com vara no Brasil. Além disso, afirma ter impulsionado a evolução do esporte e aberto o caminho para o surgimento de novos talentos, como Thiago Braz da Silva, que, na segunda-feira, garantiu o primeiro lugar no pódio.
Murer abriu mão de saltar nas três primeiras marcas e só entrou na competição quando o sarrafo estava a 4.55m de altura. E falhou. Na mesma prova, Joana Costa também deu adeus à competição. Ela superou a altura de 4.15m, mas não a de 4.30m. Maila Machado e Fabiana Moraes caíram nos 100m com barreiras. As duas cruzaram a linha de chegada na 5ª posição de suas baterias, com os tempos de 13s09 e 13s22, respectivamente.