Desde os Jogos de Atenas 2004, a tricampeã olímpica Kerri Walsh fez o que parecia impossível se tornar realidade. Em toda a carreira, nunca havia perdido um jogo sequer no vôlei de praia olímpico. Eram 26 vitórias em 26 jogos, sendo 21 delas conquistadas com sua antiga parceira, Misty May-Treanor. Nas semifinais da Olimpíada do Rio, a parceria formada pela paranaense Ágatha e a carioca Bárbara Seixas encerrou a invencibilidade histórica de forma contundente, por 2 sets a 0, com parciais de 22/20 e 21/18. O dia havia sido péssimo para as mulheres do Brasil, com a derrota da seleção feminina de futebol, no handebol e nas areias, com o revés na outra semifinal de Larissa e Talita, equipe também cotada ao título em 2016. Tudo isso além da eliminação surpreendente do time de Zé Roberto Guimarães no Maracanãzinho.
Em sua estreia nos Jogos após um ano irretocável, as atuais campeãs mundiais enfrentam as alemãs Laura Ludwig e Walkenhorst em busca do ouro olímpico na Rio 2016, nesta quarta-feira, às 23h59, pelo horário de Brasília. Na preliminar, às 22h, as americanas medem forças com as brasileiras Larissa e Talita na disputa pelo terceiro lugar.
O Brasil é o país com mais medalhas no vôlei de praia em Olimpíadas. Desde os Jogos de Atlanta 1996, ao menos um pódio é conquistado por edição. São 11 no total, sendo duas de ouro, seis de prata e três de bronze. Garantidos na final, Ágatha e Bárbara e Alison e Bruno Schmidt, na final masculina, já garantiram mais duas para a conta, que pode aumentar se houver o bronze.
A Rio 2016 é a quinta Olimpíada no currículo de Walsh, que competiu em Sydney 2000 a sua primeira, no vôlei de quadra, terminando em quarto lugar. Esta é a sua quarta vez no vôlei de praia e, desde Atenas 2004, passando por Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016, ela vinha de uma impressionante sequência de 26 vitórias, até esbarrar nas brasileiras.
Em julho do ano passado, Kerri por pouco não as deixou fora do Rio ao deslocar o ombro direito justamente em um jogo contra Ágatha e Bárbara. Mesmo machucada, alcançou a vitória ao lado de April, com quem está junto desde 2013. A veterana se submeteu a uma cirurgia, foi dúvida, mas, se recuperou a tempo. Apesar do revés, o time dos Estados Unidos ainda lidera o retrospecto, com três vitórias contra duas da carioca e da paranaense, que também levaram a melhor em 2014, nas quartas de final do Grand Slam de Xangai, na China.
O JOGO
O equilíbrio, como era de se esperar, deu o tom no início da disputa, Depois de um ace de Bárbara e um ataque para fora de Walsh, o Brasil dois pontos: 5 a 3. Combinando saques potentes e outros de efeito, as brasileiras atrapalhavam a devolução até mesmo para a tricampeã olímpica. De segunda, Bárbara fez 8 a 5, mas as rivais não se deixaram abater e empataram no bloqueio de Walsh: 9 a 9. A torcida entrou em quadra como terceiro jogador, vaiando as americanas e empurrando as locais. Os times iam alternando a lideranças, e os ralis empolgavam os torcedores que lotaram as arquibancadas em Copacabana.
Depois de uma defesa espetacular de Kerri, April soltou o braço e abriu dois pontos em um momento delicado: 18 a 16. As brasileiras buscaram e arrancaram outra igualdade com um ponto de saque da carioca. Ambos os times mantinham uma boa virada de bola, deixando claro que o detalhe iria definir. Na largadinha, Bárbara conseguiu o setpoint, escapando do paredão do outro lado. As americanas resistiram, mas foi a própria carioca que deu um ponto final, com um ataque poderoso, seguido de um ace, fechando a parcial 22 a 20.
Babi continuou inspirada na defesa e no ataque, surpreendendo as americanas. Ágatha também não perdoava nas cortadas, nos bloqueios e nem nos saques, outra arma que vinha surtindo efeito desde o início. Sem se importar com quem estava do outro lado, a paranaense cresceu no paredão e acertou dois seguidos para fazer 6 a 2. O caldeirão quase veio abaixo, eufórico com tamanho êxito do time verde e amarelo. As americanas empataram por 8 a 8, mas demonstravam nervosismo, cometendo erros incomuns. Os saques de Walsh não entravam, e as equipe pecou ao imprimir muita força no ataque, mandando duas bolas seguidas para fora (11 a 9). A disputa ficou acirrada, com Bárbara defendendo praticamente tudo.
Em uma das paradas técnicas, a música "É hoje" empolgou a torcida, que continuou a cantar à capela: "Da alegria, e a tristeza nem pode pensar em chegar". As atuais campeãs mundiais contribuíram para a felicidade da maioria. Depois de outra grande defesa de Babi, Ágatha soltou o braço e fez 13 a 11. A virada de bola, por mais que as americanas tentassem dificultar, seguia como prova da sintonia fina da dupla, que se juntou em 2011. O jogo fluía, enquanto as rivais não conseguiam se encontrar. Walsh tentava de tudo, de cortadas fortes e ataques de segunda, mas nada funcionava. Quando não era Bárbara defendendo, Ágatha subia no bloqueio para afastar o perigo, como no 17º ponto contra 14 das adversárias, explodindo os decibéis da arena. O matchpoint veio com mais uma pancada da paranaense. As americanas evitaram o primeiro, mas, no segundo, não seguraram outro ataque poderoso de Ágatha para liquidar a partida: 21/18.