Lewis Hamilton havia sido 0s193 mais rápido que o companheiro de Mercedes, Nico Rosberg, na sexta-feira, em Monza, primeiro dia de treinos do GP da Itália. No sábado de manhã, na terceira sessão livre, 0s393, e na classificação deixou o alemão muito sem graça na entrevista ao lhe impor humilhante 0s478 de vantagem, para estabelecer a pole position. Neste domingo, contudo, Hamilton, franco favorito para vencer a 14ª etapa do Mundial, recebeu a bandeirada em segundo, nada menos de 15s070 depois de Rosberg, o vencedor. Razão: errou na largada, como ele mesmo admitiu, no rádio da Mercedes, durante a prova. Pior: viu a diferença de 9 pontos que tinha no campeonato cair para 2 apenas, 250 a 248. Confira a classificação completa.
E como na F1 de hoje o resultado da corrida quase que se define na primeira curva depois da largada, ao menos o vencedor, diante da superioridade do modelo W07 Hybrid da Mercedes, Rosberg, mesmo sendo mais lento todo o fim de semana, celebrou importante vitória, a 21ª na carreira, sétima da temporada, segunda seguida em dois fins de semana consecutivos. Havia sido primeiro na Bélgica, dia 28. “Eu falei que a minha maior chance de vencer Lewis aqui em Monza seria na largada. E foi o que aconteceu”, afirmou Rosberg.
Hamilton tinha no rosto a tradicional expressão que o caracteriza quando não ganha o GP. “Sim, perdi a corrida na largada. Eu não sei de fato o que aconteceu. Vou entender mais tarde. Fiz o que sempre faço. Acho que minhas rodas ficaram patinando, talvez o mesmo que aconteceu com Nico em Hockenheim.”
O atual bicampeão do mundo, piloto de três títulos mundiais, não ganhava velocidade depois de as luzes vermelhas apagarem. Foi ultrapassado por Rosberg, Sebastian Vettel e Kimi Raikkonen, Ferrari, Valtteri Bottas, Williams, e Daniel Ricciardo, RBR. Ao final da primeira volta Hamilton era apenas o sexto.
O QUE VOCÊ SENTIU?
O GloboEsporte.com perguntou a ele o que é possível sentir nesse momento, a extensão da perda ou não há tempo para isso, pois é preciso tentar, de imediato, recuperar as posições na prova. “Pensei só em procurar ter de volta as colocações perdidas. Eu me concentrei em voltar à posição onde estava antes da largada. Claro, pude ver Nico indo embora e sei, por conta da minha experiência na F1, que as chances de vitória diminuem a cada volta, segundo a segundo. Desde o começo entendi que ganhar a corrida não seria mais possível. Coloquei como meta chegar em segundo, o máximo atingível com uma largada como a minha.”
O diretor da Mercedes, Toto Wolff, também conversou com os jornalistas. “Vamos estudar, ver o que aconteceu. O que posso dizer é que Lewis nos falou no rádio que havia se equivocado na hora da largada.” Este ano, as equipes concordaram em mudar o sistema de embreagem. Há uma única manete atrás do volante, em vez de duas, como até o ano passado. Encontrar o ponto certo do seu curso, aquele capaz de permitir ao carro se deslocar sem patinar as rodas ou ganhar velocidade lentamente, as reações indesejáveis, é um desafio para os pilotos.
Essa questão foi lembrada por Wolff. “Concordamos com a mudança no regulamento para valorizar o piloto na largada. Às vezes, vide hoje, não dá certo, como para Lewis.” É uma admissão da equipe que a dificuldade de Hamilton se deve ao procedimento equivocado do piloto.
Além da embreagem com manete única, os engenheiros foram proibidos de orientar os pilotos o ponto ideal de ajuste da embreagem, com as informações obtidas na volta de apresentação, que leva em consideração os dados daquele momento. A medida teve grande impacto nas largadas.
Desde a abertura do campeonato, na Austrália, em 7 das 14 etapas Hamilton ou Rosberg perderam posições na largada ou por não operarem o sistema corretamente ou falhas mesmo do equipamento.
“E nós avançamos muito nessa área”, explicou Wolff. Após seus pilotos sinalizarem a dificuldade de encontrar o ponto correto da manete nesse momento de tensão, com todas as luzes vermelhas acesas, e terem depois de exigir tudo para ganhar as corridas, levou o grupo coordenado pelo engenheiro Paddy Lowe a rever tudo. “Hoje é um sistema eficiente”, diz Wolff.
Hamilton vê de outra forma. A esse respeito, falou: “Eu não concordo que haja maior responsabilidade do piloto. Penso ser igual a antes da mudança. A questão é que nossa embreagem é inconstante, é difícil... (dá a entender que a palavra é manuseá-la.) No passado era permitido ser informado do ponto ideal da embreagem e era mais fácil. Agora é muito menos fácil saber quando a embreagem vai te permitir se deslocar e quando não”.
ONDAS DE SUCESSO
Este ano Rosberg começou o ano com quatro vitórias seguidas que, somadas às três nas etapas finais de 2015 o levaram a sete primeiros lugares, um atrás do outro. Chegou a abrir 43 pontos de vantagem para Hamilton, depois do GP da Rússia, 100 a 57. Mas o inglês a partir de Mônaco se impôs de tal forma na competição que na Hungria, 11º evento do calendário, assumiu a liderança, 192 a 186.
A maré de resultados favoráveis de Rosberg no começo passou para Hamilton. Do GP de Mônaco, sexto, ao da Alemanha, 12º, sete GPs, o inglês venceu seis. E agora, com as duas vitórias seguida no campeonato, Bélgica e Itália, a onda de sucesso voltou para Rosberg.
Não há nenhuma insinuação mística no andamento da disputa, mas é interessante observar como as tendências mudam na F1. Em Spa, Hamilton teve de largar lá atrás no grid para fazer um estoque de unidades motrizes, a fim de terminar o ano, e Rosberg aproveitou. E neste domingo Hamilton, segundo todas as indicações, errou na largada e pagou o preço de ver o companheiro celebrar a vitória numa pista em que era muito mais rápido.
O próximo encontro da F1 com a torcida será dia 18, no Circuito Marina Bay, em Cingapura, pista de rua, dentre as mais desafiadoras do ano. Corrida longa, quase duas horas, sob calor intenso, desgastante ao extremo para o piloto e o carro. Em 2015 a Mercedes surpreendentemente não foi bem. Hamilton largou em quinto e abandonou com problemas na unidade motriz. Rosberg saiu da sexta posição no grid e recebeu a bandeirada em quatro, 24 segundos depois do vencedor, Vettel, da Ferrari.
Wolff comentou, neste domingo, o que espera do GP de Cingapura. “Curiosamente hoje de manhã falamos disso na equipe. Fizemos uma pesquisa, na época, e acredito que sabemos a razão de termos sido lentos lá. Este ano vamos descobrir se acertamos.”