Nico Rosberg já teve o seu “momentum” no campeonato, como tanto a F1 gosta de definir, ao vencer as quatro primeiras etapas. Depois foi a vez do companheiro de Mercedes, Lewis Hamilton, com seis vitórias em sete provas. Agora, em seguida à volta das férias, Rosberg voltou a ter seu momentum, ao terminar em primeiro as corridas da Bélgica, Itália e de Cingapura, e reassumiu a liderança do Mundial.
Restam seis para o encerramento. A próxima é já dia 2, no Circuito de Sepang, na Malásia, competição mais quente do ano. E apesar da nova fase de sucesso do alemão, Hamilton já demonstrou, este ano mesmo, sua imensa capacidade de se recuperar, por depois do GP da Rússia, quarto do calendário, ter 43 pontos a menos (57 a 100), enquanto após o da Alemanha, 12º, impressionantes 19 a mais (217 a 198).
O gráfico da performance de ambos ao longo das 15 etapas disputadas evidencia como a liderança caminhou de um lado para o outro e serve de referência para o que vem aí pela frente. Será surpreendente se Rosberg seguir vencendo. Não é o que a história da temporada sugere. A vitória ao final dos 21 rounds deverá ser por pontos, poucos pontos, não por nocaute.
As únicas certezas são que o modelo W07 Hybrid da Mercedes seguirá não tendo adversários, ao menos em condições normais, e Toto Wolff, diretor da escuderia alemã, garantirá o mesmo tratamento a seus dois pilotos, como tem sido desde que sua organização passou a ganhar tudo na F1, em 2014.
O melhor da edição deste ano do Mundial é exatamente isso: o fato de a competição não ter favorito, diante como a luta entre Rosberg e Hamilton se desenvolveu. Quando os fãs e mesmo os profissionais da F1 começaram a acreditar que a disputa tomaria um rumo, depois de Hamilton se tornar líder pela primeira vez na Hungria (192 a 186), eis que Rosberg voltou a se impor de tal forma no combate, com as três últimas vitórias, a ponto de desmentir o que se pensava sobre já ter perdido outro título para o companheiro.
TALENTO X EFICIÊNCIA
Há um consenso na F1 que Hamilton tem mais dotes naturais, em outras palavras, é mais talentoso. Mas emergiu de forma clara no Circuito Marina Bay, domingo, em Cingapura, um Rosberg mais eficiente do que nunca. “O melhor Nico que eu já vi”, afirmou ninguém menos de Toto Wolff, seu chefe.
Um comentário de Hamilton para a TV italiana, domingo, mostra como ele tem consciência do desafio que o aguarda nas seis etapas que restam. Ao ser questionado sobre a vantagem de oito pontos de Rosberg na classificação, 273 pontos a 265, o inglês respondeu: “Eu não estou preocupado com isso, mas com a forma como Nico está pilotando”.
De fato, Rosberg, 31 anos, conquistou em Cingapura a oitava vitória no campeonato, 22ª na carreira de 200 GPs. Hamilton, também com 31 anos, tem seis vitórias este ano e 49 ao longo de seus 182 Gps. Há uma diferença importante na trajetória de cada um: Rosberg reúne todos os esforços para ser campeão pela primeira vez, como foi seu pai, Keke, em 1982, com Williams. Já Hamilton venceu o campeonato de 2008, com McLaren, e os dois últimos, com Mercedes.
COMO SENNA E PROST
Hamilton não é Ayrton Senna e Nico Rosberg não é Alain Prost, mas a dupla da Mercedes desenhou um cenário que faz lembrar os campeonatos de 1988 e 1989, quando Senna e Prost, companheiros de McLaren, disputaram o título até a penúltima etapa do ano, em Suzuka, no Japão. Em 1988, depois do GP da Hungria, faltando seis corridas para o fim do campeonato, como agora, Senna e Prost tinham o mesmo número de pontos, 66. Naquela época o vencedor recebia 9 pontos e não 25 como hoje.
Em 2014, ano da introdução da tecnologia das unidades motrizes híbridas na F1, Hamilton e Rosberg combateram no Mundial até a última prova, em Abu Dabi. Deu o inglês, 384 a 317. E no ano passado Hamilton também foi campeão, mas já no GP dos EUA, em Austin, 16º do calendário de 19, com o placar de 381 a 322.
GRÁFICO É REVELADOR
Vale a pena acompanhar no gráfico a maneira como a emocionante disputa se desenvolveu até agora. Rosberg começou arrasador e foi primeiro na Austrália, Bahrein, China e Rússia, as quatro primeiras etapas do calendário. Repare que depois do evento em Sochi, na Rússia, Rosberg tinha 100 pontos e Hamilton, apenas 57. Havia impressionantes 43 pontos de diferença entre ambos.
Vale recordar: em 2015, Rosberg ganhou as três últimas provas, México, Brasil e Abu Dabi, e largou na pole nas seis últimas. Trouxe o moral alto para este ano e ganhou tudo no início. Hamilton precisou recorrer a todos os seus imensos dotes de piloto para se manter equilibrado emocionalmente diante da constância em alto nível do companheiro.
As coisas começaram a mudar na Espanha. Os dois pilotos da Mercedes colidiram, abandonaram, e ficaram com os mesmos pontos. Mas Toto Wolff impôs um código de conduta entre os dois para os casos de disputa durante as corridas, sem privilégios. Não o tornou público, mas sabe-se que um deve respeitar o outro de acordo com sua posição na pista.
A partir do GP de Mônaco, Hamilton chamou para o si o momentum de Rosberg e ganhou seis das sete provas seguidas. Depois da corrida de Silverstone, 10º, o GP da Grã-Bretanha, Hamilton já estava apenas um ponto atrás de Rosberg, 168 a 167.
E com a vitória no Circuito Hungaroring, em Budapeste, Hungria, o seguinte, o piloto inglês assumiu pela primeira vez a liderança do Mundial este ano, as linhas se cruzam: 192 a 186. O novo sucesso de Hamilton em Hockenheim, antes das férias de agosto, associado ao quarto lugar, apenas, de Rosberg, fez com que muitos já dessem nova fatura do inglês como caso quase encerrado. Ele atingiu 217 pontos, enquanto o alemão, com o moral bem baixo, 198.
Hamilton havia conseguido reverter uma desvantagem de 43 pontos estabelecida depois do GP da Rússia, ou seja, somou 62 pontos a mais que Rosberg em oito corridas, 160 a 98. Agora, nas últimas três etapas, o alemão fez algo semelhante. Entre as da Bélgica, 13ª, Itália, 14ª, e Cingapura, 15ª, conquistou o máximo possível, 75 pontos, ao passo que Hamilton, 48, ou Rosberg somou 27 a mais.
Veja no gráfico: no Circuito Marina Bay foi a vez de a linha da performance de Rosberg cruzar a de Hamilton, o que corresponde a reassumir a liderança do campeonato.
A reportagem traz, ainda, um quadro com o que Hamilton e Rosberg fizeram nas seis últimas etapas que ainda restam nas duas últimas temporadas: Malásia; Japão, 17ª, dia 9 de outubro; EUA, 18ª, dia 23; México, 19ª, dia 30; Brasil, 20ª, dia 13 de novembro; e Abu Dabi, 21ª, dia 27.
Se somarmos os pontos que Hamilton e Rosberg obtiveram nessas seis corridas nos dois últimos anos o resultado é o seguinte: em 2014, Hamilton fez 118 pontos. Rosberg, 79. Na temporada passada, Rosberg foi melhor na soma das seis provas, 126 a 122.
O próximo round da luta entre os dois pilotos da Mercedes será dia 29, quinta-feira, às 23 horas, no primeiro treino livre do GP da Malásia, 10 horas da sexta-feira, dia 30, no Circuito de Sepang.