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Arthur Zanetti: ''meu foco é derrubar o grego''

Em entrevista ao DIÁRIO, o ginasta afirmou que Tóquio 2020 será sua última Olimpíada.

Redação
Por: Redação Fonte: MT Agora - Diário De SP
20/12/2016 às 19h53 Atualizada em 05/02/2023 às 09h05
Arthur Zanetti: ''meu foco é derrubar o grego''

Em 2012, os brasileiros viram um gigante de 1,56 m se equilibrar em duas argolas de tal forma, em Londres, que não teve para ninguém: Arthur Zanetti se tornava, ali, o primeiro campeão olímpico do país na ginástica. Quatro anos depois, a expectativa era de novo ouro, desta vez em casa, no Rio, mas um cara de nome complicado — Eleftherios Petrounias — foi impecável, cravou a sua série e deixou o paulista de São Caetano do Sul com a prata.

Em recuperação de uma cirurgia no ombro, agora no esquerdo, Zanetti se prepara de olho na revanche contra o grego, no Mundial de Montreal, no Canadá, em setembro. Após tanto tempo no topo, redescobrir o gostinho de precisar alcançar outro oponente pode ser o combustível perfeito. Nesta entrevista ao DIÁRIO, ele fala a respeito disso e garante: Tóquio-2020 será o fim da linha.

DIÁRIO_ Quando você estará apto a competir em alto nível novamente?

ARTHUR ZANETTI_ Volto aos treinos, mesmo, só no ano que vem. Este fim de ano ainda é só recuperação. Vou ao médico hoje (dia 29/11) para ver o que ele me libera a fazer, mas acredito que subir nas argolas, fazer o treino normal, só em 2017.

E já há uma programação para esta volta e para 2017?

Não, ainda não tem nada definido. A gente sabe que haverá algumas etapas de Copa do Mundo, algumas mudanças nos critérios de classificação, vai ter o Mundial, que será o principal do ano, mas as datas, mesmo, seguem indefinidas.

E como você está em relação à dor? O que você tem de limitação de movimento?

Ainda tenho um pouquinho de limitação em relação à amplitude, quase nada, muito pouco. E o que estou sentindo mais é a força, a recuperação da força. Ainda não posso fazer esforço maior do que a dor e preciso segurar um pouco isso. Mas é parte da recuperação, né?

Você acha que, até o Mundial, em setembro, estará com 100% das suas condições?

Ah, com certeza! Até lá, já estarei zerado. Entrando o ano que vem, já estará 100%. Vai ter dor, não tem jeito, faz parte da recuperação, já sei como é porque fiz a mesma cirurgia, só que no ombro direito. E, mesmo assim, quando você vai voltar a fazer argola, ainda dói um pouquinho. Mas é costume e essa dor vai diminuindo conforme o passar do tempo.

Foi exatamente o mesmo problema do ombro direito?

Igual. O mesmo tendão, a mesma ruptura, o mesmo descolamento, mesmo médico, mesmo hospital (risos). Tudo igual!

Esse tipo de lesão aparece em função do próprio esforço, mesmo, de treinamentos?

Sim, a gente vai dosando a dor. Quando dói um pouquinho além, a gente dá uma parada no treino, faz fisioterapia. Mas, depois, tem de continuar. E, desta vez, estava muito próximo da Olimpíada, então, não tinha o que fazer. Era manter os treinamentos e controlar a dor para não acontecer nenhum acidente lá, na hora.

E, lá no Rio, isto o limitou de alguma forma?

Competi normal. Tive de tomar anti-inflamatório para fazer a parte de treinamento e competição. E eu fiz a minha parte, dei o meu máximo.

Na outra cirurgia, tudo deu muito certo, você ganhou até o Mundial no ano seguinte, mas agora você está seis anos mais velho. Tem algum tipo de receio de que a recuperação, agora, não seja como aquela?

Não, pelo contrário. Quando eu soube que teria de fazer cirurgia, fiquei, sim um pouco mais preocupado. Pensei: ‘naquela época eu tinha 20 anos, o corpo já não é o mesmo, não reage da mesma forma. Mas foi o contrário. A cirurgia foi bem melhor do que a de 2010, estou me recuperando mais rápido, sentindo menos dor...

Você também ainda não era, naquela época, um dos melhores da modalidade. O que mudou na sua vida nesse período de tempo?

A parte do reconhecimento, mudou bastante. Depois de Londres, eu saía na rua e já era reconhecido. A estrutura melhorou, hoje temos algo adequado. A parte de patrocínio melhorou também, veio mais gente apoiar.

E em relação ao assédio? Sei que você é um cara tranquilo, mas, após ficar famoso, precisou se concentrar para manter o foco e não deixar a fama atrapalhar?

Sou bem tranquilo, não gosto de ficar me mostrando. O reconhecimento faz parte do trabalho, mas, quando vou ao shopping, gostaria de passar como uma pessoa despercebida.

E você consegue passar como uma pessoa despercebida?

Não (risos)! Não dá. É impossível, ainda mais aqui no ABC. Antigamente, as pessoas tinham dúvida. Hoje, quando me veem na rua, sabem quem eu sou. Aí me param, tiram foto, dão os parabéns...

Um ginasta da elite, como você, consegue ficar rico com o esporte?

Vou te falar que consegue. Se você tiver cabeça... O problema é que tem muita gente que ganha muito dinheiro e pensa em gastar tudo. Se você souber se organizar, consegue, sim, ter uma situação boa.

Outra coisa que me chamou a atenção é que você me pareceu extremamente tranquilo e satisfeito ao fim da Olimpíada, em nenhum momento pareceu estar frustrado. Foi isso mesmo?

Foi isso. O resultado é uma consequência. Todo mundo viu o quanto trabalhamos para conseguir a medalha. A gente sabia que seria muito difícil porque a concorrência... em outras Olimpíadas, você pegava dois, três que estavam na disputa. Nesta Olimpíada, não, tinha seis atletas que disputavam pódio. Então, a concorrência foi maior. 

Independentemente da satisfação com o resultado, há algo que teria feito diferente, um movimento?

Não, pelo contrário. A gente estava treinando um outro movimento e, graças a Deus, não fizemos. Senão, não estava nem no pódio.

Por quê?

Porque o elemento sairia com muito desconto. Minha nota de partida aumentaria, mas o desconto seria maior e a nota final, menor do que a que eu tirei. 

Depois da apresentação do grego, internamente, você já sabia que seria muito difícil?

Eu não sabia porque não sabia da nota de ninguém. Alguns ginastas gostam de ficar assistindo às séries dos outros. Eu me apresentei para os árbitros e saí para o ginásio de aquecimento, que ficava ao lado, fiz um aquecimento e fiquei esperando um pouco lá. Esperei uns cinco, seis minutos, e voltei para o ginásio. Entrei de cabeça baixa, sentei no banco e não prestei atenção em mais nada.

Então, você nem sabia?

Não sabia. Subi para fazer a minha prova e o meu melhor.

E isso é um ritual seu em todo evento?

Em alguns. Nos principais. Em algumas etapas de Copa do Mundo, gosto de ver. Mas essas competições de grande porte, aí prefiro ficar na minha.

Atualmente, o grego é o melhor ginasta nas argolas?

Atualmente, ele é o melhor. Acabou o ano, a história muda totalmente. Aí, já não sei mais. Aí, vai ser no Mundial.

E há um desejo pessoal de retomar o posto...

Sim, agora tem isso. Antigamente, só conseguia bons resultados. Primeiro, primeiro, primeiro... aí, quando alguém te ultrapassa, você tem um rival para buscar. E, agora, o meu foco é derrubar o grego.

Para um atleta que chegou ao seu nível, ainda é possível se desenvolver mais ou, agora, são detalhes muito pequenos que definem a competição?

Não, sempre dá para melhorar alguma coisinha e aperfeiçoar alguns movimentos. 

Até que idade vai um ginasta top, em média?

Acredito que até uns 28 a 30 anos, mais ou menos.

Tóquio, então, será o limite?

Tóquio é o meu limite. Passando disso, a gente sabe que a idade vai pesar, o corpo não vai acompanhar os treinamentos e também a cabeça já será outra.

E o que um cara como você, que está há tanto tempo treinando, competindo, não aguenta mais fazer?

Dieta! Odeio fazer dieta, é a pior parte. Dizem que o treinamento é muito ruim, exaustivo, mas manter uma dieta disciplinada é muito difícil. Chega o fim de semana, aparece festa de família, aniversário de primo, de mãe... Você vai porque são parentes, tem de estar lá. Mas aí vê todo mundo comendo aquele churrasco delicioso e você fica só na salada.

E isso você precisa manter durante os sete dias da semana? Não há nenhum dia em que pode comer o que quiser?

A nutricionista deixa uma refeição na semana. Mas aí você tem de pesar, porque come que nem um louco e, chega no treino, o peso está lá em cima.

Você já sabe o que vai querer comer no primeiro dia da aposentadoria?

Eu antecipei um pouquinho essa aposentadoria (risos). Aproveitei esse momento da operação que eu não posso treinar, meu corpo não precisa estar 100%. Quando acabou a Olimpíada, comi pizza, churrasco, massa. Agora, perto do fim de ano, volto a controlar.

Como é o seu cardápio?

Hoje, por exemplo, faço, em média, de cinco a seis refeições. Em período de treinos fortes, podem ser até oito. Pouco carboidrato de manhã, como uma fatia de pão integral e uma de peito de peru. No almoço, arroz ou macarrão integral, filé de frango ou peixe e salada, legumes. Na janta, diminui o carboidrato e busca mais o peixe, sempre grelhado.

E qual o seu prato favorito?

Carne e massa.

Você já tem planos para o pós carreira?

Penso em fazer alguns projetos para a iniciação esportiva, criar novos polos para a base. 

Mas a ideia é fazer um trabalho parecido com o do Marcos (Goto, treinador dele)?

Não, é implantar mais em escolas. É o local de onde você tira a melhor qualidade. Há uma quantidade enorme de crianças e, após ela começar a se desenvolver, aí sim, vem para um centro de treinamento.

Falando em crianças, você tem uma preocupação em ser exemplo para elas?

Tenho. Algumas mães vêm falar que o filho começou a fazer ginástica porque me viu na televisão. A gente precisa saber se comportar para demonstrar à nova geração como faz para se alcançar um resultado. 

Falando sobre um tema mais sério. Há uma crise de gestão em confederações de diversas modalidades, como na natação, no futebol, no basquete... E na ginástica, como você enxerga a administração do esporte no Brasil?

Eles têm vontade de trabalhar sério, são profissionais de ponta para estar nesse cargo. Mas o investimento vai diminuir, a gente sabe, não adianta. Nesses dois últimos anos, acho que todas as confederações receberam muito dinheiro de governo, de patrocinadores. E a gente sabe que não será o mesmo, vai haver corte de verba. O país não está em uma situação adequada como foi para o ciclo olímpico. Então, temos de ajudar, saber a qual competição ir para não ter gasto à toa.

Em relação a doping. Na ginástica você já ouviu falar de algum esquema, como aconteceu em outros esportes?

Muito raro. Na história da modalidade, acredito que dois ou três foram pegos em doping por substâncias que nem eram proibidas, mas mascaravam. Mas não é como em outros esportes, em que todo ano tem alguém pego.

Você chegou a receber, em algum momento da carreira, proposta para ter algum tipo de benefício nesse sentido?

Nunca. A gente sempre trabalhou com o pensamento de nunca utilizar nada para ter benefício. A gente faz o que faz pelo nosso esforço, pelo limite do treinamento. E eu sou totalmente contra isso.

Como você avaliou a suspensão do atletismo russo na Olimpíada do Rio?

Justo. Se eles utilizaram substâncias proibidas, têm de ser banidos. Só acho errado banir alguém que não tem nada a ver com a história.

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