Ainda causa estranheza para muitos os nomes ditos “desconhecidos” que aparecem no radar da Seleção escolhida por Tite vez ou outra ao longo do ano. Dessa vez, o foco se tornou em grande parte para os atacantes David Neres, que hoje atua no time holandês Ajax; e em parte menor, para Richarlison, ex-jogador do Watford que joga atualmente no Everton – ambos times da Inglaterra.

Nem Neres nem Richarlison, que atuaram juntos nas categorias de base da Seleção, tiveram tempo de fazer uma grande carreira no Brasil quando estiveram por aqui. O primeiro saiu bem cedo das categorias de base do São Paulo rumo à Amsterdam, se integrando ao clube multi-campeão da Holanda já em janeiro de 2017 e pouco tempo depois, aparecendo e jogando regularmente no elenco principal do time. Enquanto que Richarlison, ainda que tenha conseguido certa relevância ao jogar por América Mineiro e Fluminense no Brasil, também saiu bem cedo do país em busca de gramados mais bem tratados no continente europeu.

O nome de Richarlison já não é mais tão estranho ao torcedor brasileiro, pois ele já foi convocado em oportunidades anteriores por Tite, até mesmo marcou gols em seu jogo de estreia contra El Salvador em um amistoso. Porém, Neres não tem a mesma sorte. Para grande parte do público, ele permanece uma incógnita.

É a partir daí que começam as acusações de influência de agentes que foram ouvidas nos anos de Mano Menezes, Felipão e Dunga. Acusações essas que ignoram totalmente o que os dois jogadores fizeram com seus clubes para merecer essa chance vestindo a camisa da Seleção na próxima Copa América.

Neres foi peça chave do Ajax na temporada, tanto na campanha do título da liga de futebol holandesa quanto na histórica e inesperada jornada na Liga dos Campeões onde o time chegou às semifinais do campeonato. Apesar de contarem com um elenco que ganha muito menos dinheiro do que os gigantes que estavam em seu caminho, o Ajax foi eliminando um por um até encontrarem o Tottenham, que soube explorar suas claras deficiências defensivas para conseguir uma virada também histórica para a classificação às finais do torneio.

Richarlison não teve o destaque enorme de Neres, mas muito disso por conta dos problemas enfrentados pelo Everton na Premier League inglesa. O seu time tem proporções intermediárias – no palpite de futebol da Betfair, ele é apenas o nono favorito ao título da liga da Inglaterra na temporada 2019/2020. E além disso, o Everton teve também uma campanha de muitos altos e baixos nesse último ano.

Apesar disso, Richarlison ainda conseguiu ser uma influência bem positiva para o ataque do Everton no campeonato. Ele teve participação direta em 14 dos 54 gols marcados pelo time na Premier League, com 13 gols e uma assistência registradas.

Ainda assim, o esperado tanto de David Neres quanto de Richarlison não é o protagonismo imediato na Seleção. Ao invés disso, os dois serão usados por Tite como contribuidores à causa do time em momentos de necessidade. E a experiência de fazer parte de um grupo potencialmente campeão também é algo que entra no cálculo de se chamar ou não dois jogadores altamente promissores para os próximos anos do Brasil.

É por esses motivos e muitos outros que são eles quem são chamados no lugar de Lucas Moura, por quem muitos entre a massa clamaram pela convocação. Mas muito disso foi por conta do calor do momento após uma atuação de gala do jogador brasileiro pelo Tottenham no jogo que eliminou o Ajax de Neres na Liga dos Campeões.

Entretanto, os três gols marcados por Lucas naquela noite iluminada não excluem o fato dele ter sido um jogador até aqui mediano em suas atuações no clube inglês ao longo da temporada. Na liga inglesa, ele marcou três gols a menos que Richarlison, apesar de ser quase cinco anos mais velho – e mais experiente – que o jogador do Everton.

Logo, é mais do que tempo para que esses jogadores jovens e “desconhecidos” do grande público brasileiro sejam levados a sério. Neres e Richarlison, se conseguirem manter o nível exponencial de crescimento em suas carreiras, serão dois atacantes que o Brasil terá de contar na Copa do Mundo em 2022, no Qatar. E quanto mais cedo e mais experiência pudermos dar a eles na Seleção, melhor.