Camila Molina/Polícia Civil-MT
Um ano após a criação da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), a escrivã Cibele Maria de Amorim Vilela ingressou na Polícia Civil de Mato Grosso e atua no combate à violência doméstica e defesa da mulher desde que iniciou a sua carreira e escolheu como unidade de lotação a Delegacia Especializada de Defesa da Mulher (DEDM) de Cuiabá. Desde a época de estudante, Cibele já pensava em ingressar na carreira pública e estava concluindo a faculdade de Direito quando fez a inscrição no concurso da Polícia Civil no ano de 2005.
Turma de 2007 de escrivães da Acadepol![]() |
Devido ao bom desempenho no curso de formação na Academia de Polícia, Cibele pode escolher a unidade de lotação e em setembro de 2007 começou a trabalhar na Delegacia da Mulher de Cuiabá, unidade onde continua lotada após 14 anos do início da sua carreira.
Atualmente como escrivã-chefe do cartório central da DEDM, Cibele lembra que quando começou a atuar com casos de violência doméstica e familiar, a Lei Maria da Penha tinha apenas um ano de criação, sendo um momento de grandes mudanças e evolução na defesa dos direitos da mulher e das unidades especializadas.
"Posso afirmar que vi e, muitas vezes, participei do crescimento da delegacia e da evolução do desenvolvimento de um trabalho de eficiência de proteção à vítima. Hoje a Delegacia da Mulher é uma delegacia de grande visibilidade e a unidade que mais produz inquéritos no estado de Mato Grosso. Ter vivido e presenciado toda essa mudança é algo que marcou a minha carreira como policial", descreve a escrivã.
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Para ela, todos os casos de violência contra a mulher são muito tristes, uma vez que na maior parte das vezes são cometidos por pessoas próximas às vítimas, em quem ela confiava e que deveria cuidar e protegê-la.
Um dos casos que se recorda ocorreu em 2019, quando uma vítima teve o corpo queimado pelo namorado, por ciúmes. No início da investigação, a vítima se recusava a colaborar. Foi preciso muito trabalho de toda equipe - escrivães, investigadores, núcleo de inteligência - para convencê-la a denunciar o agressor.
"Ela era uma mulher muito vaidosa e presenciar seu sofrimento vendo o corpo desfigurado foi muito triste. São muitos casos de vítimas queimadas, mutiladas, estupradas, mas acredito que ainda não vi de tudo, pois aqui podemos ver que o ser humano é capaz de coisas terríveis", disse.
Aprender a ouvir
Tantos anos de trabalho diário com vítimas de violência doméstica também trouxeram mudanças para a vida pessoal e profissional da escrivã. Através da sua atuação como policial, a escrivã disse que passou a desenvolver habilidades como a escuta ativa e acolhedora, ter mais empatia com as pessoas, o que dá possibilidade a ela de mitigar o sofrimento de muitas mulheres vítimas de todos os tipos de violência.
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"A maior satisfação que temos é quando conseguimos ver as vítimas se libertando do ciclo de violência. Também é gratificante tirar o agressor do convívio da mulher que está sofrendo com um crime. É o que me move até hoje, saber que posso dar liberdade para uma vítima, através do trabalho desenvolvido na delegacia, pois é para isso que trabalhamos. Nossa função é proteger e melhorar a qualidade de vida das vítimas", afirma a policial.
Além das mudanças na lei, Cibele também destaca a evolução tecnológica da Polícia Civil, como o inquérito eletrônico e a modernização das técnicas de investigação policial, que geraram o aumento na resolução de crimes e uma repressão mais qualificada.
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Mesmo diante de tantos pontos positivos, Cibele ressalta que um dos maiores desafios de atuar como escrivã de polícia é manter a qualidade de serviço prestado à sociedade. Para a escrivã, a falta de efetivo tem sobrecarregado todas as carreiras, principalmente no interior do estado.
"Em uma Delegacia da Mulher, o baixo efetivo compromete a saúde mental do escrivão. O acolhimento de vítimas de violência necessita de um cuidado especial, que para ser bem desempenhado é necessário estar bem física e mentalmente. Uma boa equipe é fundamental para o sucesso de qualquer unidade", finalizou.