Mais do que um dirigente, um empreendedor. Acostumado a atuar na área agrícola e com o apoio de grandes empresários do setor em Mato Grosso, Helmute Laswich é talvez o principal responsável pelo atual sucesso do modesto Luverdense – tanto na Série C do Campeonato Brasileiro, quanto na Copa do Brasil, onde a equipe enfrenta o Corinthians nesta quarta-feira, em Lucas do Rio Verde. Gaúcho, “ex-gremista” e fã do técnico Tite, ele veste a camisa de seu clube como poucos.
O presidente do Luverdense é uma grande figura. Conta piadas, brinca com jogadores, técnico, assessores... Apesar do olhar às vezes carrancudo, até bravo, mostra-se sempre disposto a conversar. No começo, é um pouco receoso. Depois, vira quase um amigo de infância. Em quase 30 minutos de papo com a reportagem do GLOBOESPORTE.COM, falou de sua visão “agrícola” do futebol, da inspiração no Corinthians e das passagens que teve com o técnico da equipe alvinegra.
Helmute banca praticamente toda a equipe do próprio bolso. Nascido em Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, rumou para o Mato Grosso por causa da soja – cursou agronomia em Santa Maria até 1987. Assim que se formou na faculdade, nutriu sua paixão pelo estado e se mudou. Em 2004, já um empresário de sucesso, foi convidado a ajudar na fundação de um novo clube para Lucas do Rio Verde.
O então torcedor do Grêmio aceitou o desafio logo de cara, mas ainda com um pé atrás típico de sua personalidade desconfiada.
- Perguntei ao pessoal se seria uma coisa séria. Se é sério, estou dentro. Sempre fui gremista meio louco, acompanhei várias decisões, a mais memorável foi a Copa do Brasil de 1997, no Maracanã lotado contra o Flamengo. Eu estava lá dentro. Então, quando pintou o negócio de um clube aqui, o prefeito na época me pediu para presidir o clube. Não gosto de fazer coisa meia-boca. Nunca fizemos nada além do que as pernas alcançam. Criamos um conceito, uma respeitabilidade, e estamos crescendo – afirmou Helmute.
Os conceitos do agronegócio são aplicados no futebol, inclusive nas analogias que o presidente do Luverdense faz. Inspirado no modelo de gestão do Corinthians, campeão do mundo e em alta, o clube mato-grossense tem metas bem definidas e teto salarial não muito alto. A folha mensal gira em torno de R$ 250 mil. Com a renda do jogo contra o Timão, já será possível cobrir os vencimentos do resto do ano – cerca de R$ 1 milhão.
- Se eu tenho uma fazenda de 200 hectares, e o outro tem uma de 20.000 hectares, essa é a diferença do Luverdense para o Corinthians. Nossa lavoura é de 200 hectares apenas, mas não é proibido o pequeno fazer tudo corretamente. Não é proibido. O pequeno produtor, nos seus 200 hectares, pode colocar o que há de melhor hoje em tecnologia, tudo. É isso que fazemos – explicou Helmute.
- Vamos aprender muito com o Corinthians, com a vinda deles aqui, nossa ida a São Paulo. O tamanho da estrutura é semelhante à comparação que fiz, mas nossos 200 hectares são muito bem feitos e cuidados. Por isso estamos chegando – completou.
O carinho pelo Luverdense foi ficando inversamente proporcional ao apego pelo Grêmio. Um dia, em 2005, assistiu à Batalha dos Afiltos com o ex-volante Dinho, que seria treinador da equipe de Lucas do Rio Verde anos depois. O próprio Dinho afirmara que preferia torcer pelos amigos do que por um clube específico. Helmute Laswich entendeu o recado.
- Vou dizer. Quando precisei de ajuda do Grêmio, fui tratado com desprezo. No Inter, por exemplo, fui muito melhor tratado. A diretoria do Internacional, quando precisei, sempre foi muito mais atenciosa. Muito mais do que aqueles que puxei o saco a vida inteira – desabafou.
A loucura pelo Grêmio o fez conhecer Tite em 2005, mesmo ano da Série B. Em um jogo contra a Portuguesa, no Canindé, o recém-demitido técnico do Corinthians estava nas arquibancadas ao lado de Helmute.
Nesta terça-feira, o presidente do Luverdense cumprimentou Tite, lembrou da história, e falou até de uma indicação que recebeu do atual campeão do mundo.
- Conheci o Tite dentro do Canindé, fomos assistir a um jogo do Grêmio na Série B, conversamos um pouco sobre futebol, falei sobre o Luverdense. Dali a um tempo ele ligou na minha casa, uns cinco, seis anos atrás, indicando uns amigos para trabalharem aqui. Ele é estupendo, mas não aceitei as indicações dele (risos) – avisou.
O confronto desta quarta-feira pode ser bem ameno, já que as relações entre os chefes de Luverdense e Corinthians são mais estreitas do que se possa imaginar. Mesmo assim, Helmute avisa que a prioridade é a Série C do Brasileirão. A equipe de Lucas do Rio Verde divide a liderança de seu grupo com o Sampaio Correa.
- Já batemos na trave em 2011 e 2012. Agora, estamos muito eufóricos. Acho que esse é o ano do acesso.